Entrevista com a grafiteira e tatuadora manauense Chermie

 

Chermie: (...) nada melhor do que eu pintar algo que tenha a ver com a minha terra"

Chermie: (…) nada melhor do que eu pintar algo que tenha a ver com a minha terra”

A grafiteira e tatuadora Chermie (Sarah Regina Ferreira), 24, nasceu em Manaus, estado do Amazonas, Região Norte do Brasil. Ela iniciou sua trajetória na cena urbana manauense. Na época, como estudante, participou com mais três colegas da escola, das pichações organizadas pela “gang” Garotos Diabólicos (GD).

A personagem Shermie de The King of Fighters, uma lutadora de um jogo para videogame, foi sua inspiração para a tag Chermie. De acordo com ela, o grafite foi o que lhe proporcionou ser a mulher que é hoje. “Eu pinto pra mostrar pra todo mundo a minha cultura, mostrar a cidade e ao povo do Brasil, que a figura principal é o índio, que já estava aqui antes de qualquer pessoa”, justificou. (Denuncie abusos. Direitos reservados. Fotos Shermie e byJFParanaguá). Leia a entrevista a seguir:

Chermie em pose na loja Mil Muros

Chermie em pose na loja Mil Muros

AAR – Como aconteceu o seu contato com a arte?

C – A cena em Manaus acontecia nas escolas públicas, com muita pichação.

AAR – Então você iniciou na pichação?

C – Pichei muitas vezes a escola em que estudei.

AAR – Dentro ou fora da escola?

C – Internamente, fora e também no bairro.

AAR – Você pichava sozinha ou com mais alguém?

C  – Eu, e mais três amigos, que estudaram na mesma sala de aula.

AAR – Lembra-se do nome deles?

C – Não gostaria de citar.

AAR – Você participou de alguma gang?

C – Participei da GD (Garotos Diabólicos). A gang, tinha uns 20 integrantes, só que eu pintava com mais três garotos, que moravam meu bairro.

AAR – As pichações eram com rolinho ou spray?

C – Com spray. Em Manaus era fácil encontrar spray em qualquer loja de material de construção. Antigamente não tinha tantos problemas em vender spray como atualmente.

AAR – Você sofreu alguma abordagem da polícia por causa dos atos de transgressão?

C – Durante o período de pichação não.

AAR – Que tipo de picho vocês faziam? Eram ondinhas como as daqui de Salvador?

C – Não. Em Manaus, os pichos são quadrados.

AAR – E qual o significado desses quadrados?

C – Não tem significado. Os caras pichavam por pichar. Eles gostavam da pichação.

AAR – Qual a sua idade na época?

C – Treze anos de idade.

AAR – Quanto tempo durou?

C – Nove anos. 

byJFParanagua

AAR – Seus pais ficaram sabendo dos seus atos?

C – Minha mãe nunca soube dos meus atos e nem que fiz parte de uma gang.

AAR – E seus irmãos sabiam?

C – Claro. Eles viam os desenhos do picho no meu caderninho (black book).

AAR – O que aconteceu depois? Você participou de outras gangs?

C – Não. Pichei por um tempo, depois comecei a me envolver com o pessoal do Hip Hop de Manaus. Num dos encontros conheci pessoas de outros grupos que fizeram a proposta de juntar as turmas para realizar um coletivo de mulheres. Como não existia DJ em Manaus, tomei a iniciativa de fazer um curso de DJ e MC. Nesse período, fiz dois bombs com meus amigos grafiteiros do Hip Hop, inclusive um deles ensinava no curso.

AAR – Como foi o bomb?

C – Lee. Adotei por um período a tag Lee, personagem de um desenho que passava em canal fechado.

AAR – Como você chegou ao grafite?

C – Em Manaus, existiam duas meninas que pintavam e andavam com os grafiteiros, mas tinham vergonha de pintar com os caras. Certa vez, aconteceu um desentendimento entre minha amiga Mirapotira e os grafiteiros porque eles falaram que ela não podia pintar no meio deles. Ela ficou irritada e disse pra mim: “Agora vamos pintar nós duas pra levantar a cena feminina.” E começamos a pintar. Com essa atitude, surgiu a oportunidade da gente participar do IV Encontro Manaus Arte, além de convidar outras meninas que pintavam nos bairros.

AAR – Como você conheceu a Mirapotira?

C – Durante uma roda de freestyle que acontecia todas às sextas-feiras na praça próximo a minha casa. Eu sempre que ia encontrava a Mirapotira por lá. Uma vez ela perdeu o ônibus e como não tinha pra onde ir, uma amiga me pediu pra deixá-la dormir na minha casa. A partir daí firmou-se uma amizade que já tem mais de dez anos.

AAR – Qual a sua referência do grafite em Manaus?

C – Árabe. Ele tem mais de 20 anos grafitando. Foi o primeiro grafiteiro de Manaus, é o pai da minha filha e me ensinou as primeiras técnicas do grafite. Ex-pichador, morou em Belém e aos 20 anos viajou para Manaus. Nessa época, ele conheceu um grafiteiro paulista que foi morar em Manaus e lhe mostrou uma revista de grafite. A pichação de Belém é praticamente um grafite, tem contornos e sub-contornos. Com a base adquirida em Belém, mais o aprendizado da revista, ele começou a grafitar e levantar a cena em Manaus.

byJFParanagua

AAR – Qual é o seu estilo?

C – Olha! É mais freestyle. Faço de tudo um pouco: letras, personagens, estênceis, steackers, lambes e bombs. Mas o que gosto de fazer mesmo é personagem.

AAR – Árabe foi sua referência em Manaus. E no Brasil, quem você cita?

C – O grafiteiro paulista Chamds. Ele é a minha maior referência nacional do grafite.

AAR – Por causa do estilo?

C – Ele também faz tudo, embora faça mais personagens. Gosta de pintar gorilas e macacos. Chamds me deu todas as dicas para a minha evolução no grafite. Ele também me deu toda base da tatuagem, inclusive me ensinou a tatuar.

AAR – Quais são as cidades que já morou e conhece?

C – Manaus; Belém (2005 e 2006); Salvador três vezes; São Paulo duas vezes; Rio de Janeiro e, atualmente, estou morando novamente em Salvador.

AAR – Qual foi o seu primeiro grafite?

C – Uma boneca.

AAR – Como da grafiteira Mônica?

C – Isso. Mas não tinha nome. Era simplesmente uma personagem.

AAR – Você não quis dar um nome?

C – Não, porque passei pouco tempo com a personagem. Depois, resolvi pintar letras e índios.

AAR – Você estava ainda na busca de uma definição?

C – Estava tentando encontrar o meu estilo.

AAR – Como foi a sua trajetória até chegar ao estilo atual?

C – Olha! Comecei inicialmente pela personagem. O próprio Árabe me criticou algumas vezes achando que o meu desenho era muito pré-escolar. Então, passei a pintar letras, inspirada na grafiteira ABC, que já morreu. Quando estive em São Paulo pela primeira vez e estava grafitando com outros artistas tive a oportunidade de conhecer as grafiteiras Ana Clara e Fernanda Funega, do Coletivo Maçãs Podres, trocar idéias com elas sobre o grafite e um dia me perguntaram: “Por que você não grafita índio? É uma coisa da sua terra, da sua cultura!” Então, pensei: Porra! Não tem nada melhor do que eu pintar algo que tenha a ver com a minha terra. A partir daí, passei a pintar índios.

AAR – Você pode descrever o grafite em sua cidade?

C – Apesar de minha cidade está localizada na Região Norte do Brasil e não ser tão grande quanto Salvador, e quanto São Paulo, a cena lá é forte, com muita técnica e muito grafiteiro bom. Por incrível que pareça só agora em Manaus que veio chegar spray de qualidade. Existia a Colorgin, com seis cores disponíveis. E, mesmo assim, com essas seis cores a gente misturava fazendo outras cores. Eu já fiz vários eventos de grafites e tem vários grafiteiros reconhecidos de fora. E, falando da cena feminina, em Manaus é muito mais forte do que São Paulo.

Chermie

AAR – A cena feminina manauense supera a paulistana?

C – Pela perspectiva de cidade não. São Paulo é grande e tem muita grafiteira. Mas, Manaus é pequena e tem muitas meninas pintando. Por sinal, três vezes mais do que tem em Salvador. Elas pintam todos os dias bombs, personagens, painéis. Existe até uma crew com 10 meninas. Então, a cena é forte!

AAR – O grafite é proibido em Manaus?

C – Olhe! Até o tempo em que eu morava lá não. Existia o preconceito, algumas pessoas reagiam, xingavam e outras chamavam de vagabundas quando via a gente na rua pintando.

AAR – Vocês foram abordados pela polícia?

C – Também. Mas pela polícia ambiental. Inclusive, já fui presa por estar grafitando.

AAR – E hoje a reação da população mudou?

C – Hoje já mudou. Tipo assim… Tem oito anos, que Árabe organizou o projeto de Hip Hop, em Manaus, mas sem o grafite.

AAR – Foi dele a ideia do projeto?

C – Sim. Ele apresentou o projeto a Prefeitura, posteriormente a Secretaria da Juventude e Desenvolvimento Humano acionou Árabe, porque queriam saber se ele era uma das cabeças da pichação, devido a forte atuação dos pichadores em Manaus. Quando souberam que se tratava de uma pessoa ligada ao Movimento Hip Hop, aprovaram o projeto. Mas, naquela época, a população reagia contra os pichadores. Felizmente, hoje em dia, a coisa mudou. O grafite ganhou uma proporção maior, tem muito mais gente pintando, as galerias estão aceitando, já foram realizadas duas exposições coletivas de grafite. Os próprios grafiteiros já estão se relacionando mais com os artistas plásticos da cidade.

Chermie

AAR – Qual o motivo da falta de relacionamento?

C –Os artistas plásticos eram muito fechados e não iam pra rua pintar. Mas agora eles estão indo. Aqui em Salvador, é bem diferente, tudo misturado. O artista plástico vai pra rua e interage com o grafiteiro.

AAR – Conte um fato pitoresco de sua vida que aconteceu na cena manauense ou nas outras capitais?

C – Como te falei, eu já fui presa com outros amigos pela polícia ambiental, porque estava pintando numa das principais avenidas da cidade. Eles prenderam nosso material e levaram a gente pra delegacia. Por sorte, não ficamos detidos. Argumentei com o delegado que a polícia prendeu a gente devido à poluição visual e não por causa do meio ambiente. Comecei a citar os outdoors, as propagandas dos políticos, que também são poluição visual. Permanecemos por uma hora detidos. Aí liguei pro Árabe, que estava trabalhando na Secretaria de Desenvolvimento Humano, contando o ocorrido. Em seguida, o secretário ligou e libertaram a gente. Já nas outras cidades não tive nenhum problema.

AAR – Como você descreve a sua arte hoje?

C – Hoje eu pinto pra mostrar pra todo mundo a minha cultura, minha cidade e, principalmente ao povo brasileiro que os índios é que já estavam aqui antes de qualquer pessoa. Quero demonstrar isso, sabe? Além do povo negro, branco, seja caboclo, pardo ou qualquer coisa que o pessoal fale, é o índio em primeiro lugar. Temos que valorizar a cultura indígena. Fiquei muito magoada quando comecei a perceber que em Manaus as pessoas não gostam de ser chamadas de índios. Isso é preconceito. É muito raro um manauense que não tenha descendência indígena. Eu, por exemplo, sou uma descendente por parte de meu pai.

byJFParanagua

AAR – O que o grafite representa para você, pessoalmente?

C – Depois da minha filha é o grafite que tenho de maior valor na vida. Respiro grafite! Foi o que me proporcionou ser a mulher que sou hoje. Tive oportunidade de viajar, ter contato com outras pessoas, ganhar experiência.

AAR – O grafite proporcionou muitos conhecimentos e amizades?

C – Isso aí. Além das trocas de experiências, conheci pessoas legais em cada estado e o grafite me ajudou financeiramente.

AAR – Você faz trabalhos particulares?

C – Faço tanto coisa que nem sei (risos). Eu só não faço realismo (risos).

AAR – Como é ser uma mulher na cena atual?

C – Você está falando em Salvador ou nacional? Se for nacional acho que é a mesma coisa de um homem. Acho que não tem nada de diferente assim. Existe sim o preconceito como tem em toda sociedade. Todo mundo sofre preconceito: o negro, o pobre, o branco, as lésbicas, os gays, os grafiteiros e grafiteiras, os MCs. Tudo que é tido como fora do normal e a sociedade diz que não pode ser, vira preconceito. Mas no grafite não. Os caras já tratam a gente como pessoas. Mulher grafiteira e grafiteiro têm a mesma capacidade que os caras.

AAR – Você recebe apoio da população quando está pintando na rua?

C – Aqui em Salvador sim. Em 2009, quando participei do Encontro de Grafite, eu fiquei surpresa com os elogios das pessoas.

AAR – Quer dizer que em outras capitais não acontece?

C – Em Belém e Manaus não. A primeira vez que recebi um elogio, foi em Salvador. Ser grafiteira em Salvador, é vida!

AAR – Qual a sua relação com Salvador? O que lhe encanta nessa cidade?

C – Olha! A primeira vez que vim a Salvador foi para o Encontro de Grafite, organizado pelas GrafiteirasBR, representando a minha cidade. Nessa cidade eu ganho mais. Não é o dinheiro, mas estou falando de crescimento profissional. Salvador e São Paulo são duas cidades que eu vejo que posso crescer mais. Aqui em tenho parcerias e apoios, a cena é forte, não só no grafite, como na arte em geral.

AAR – Como você vê a liberdade de expressão em Salvador? O artista pode sair de dia, de noite e grafitar no Centro ou em qualquer lugar sem interferências?

C – Se a intervenção for no imóvel de um particular ou uma empresa, certamente o dono vai reclamar se não pedir autorização. Mas aqui tem essa liberdade, sabe? Você pode ir a qualquer lugar que vai ver algum segmento da arte. De vez em quando você vai ver um bomb, um lambe ou um adesivo. O que mais me encantou foi a arte do azulejo…

AAR – Você se refere aos mosaicos?

C – Tem muitos mosaicos aqui. Esse tipo de arte começou a me encantar, porque os artistas vão tomando os espaços urbanos com belíssimos trabalhos.

Chermie

AAR – Qual o significado da tag Chermie Bixo Urbano?

C – Eu assinava Lee. Quando estive em Belém, conheci uma militante do Movimento Hip Hop de Salvador. Ao saber que meu tag era Lee, comentou comigo: “Eu sou amiga de um grafiteiro baiano chamado Lee27” Eu disse: porra! Não vou ficar usando a tag de um cara que já tem nome, que deve ter respeito por ser da velha escola e respeito profissionalmente. De ser mais antigo do que eu e referência nacional. Além desse fato, assistir um filme com um grafiteiro de Nova York por nome Lee. Então, decidi mudar o nome pra Shermie, inspirada na Shermie de The King of Fighters, que é uma lutadora. Com a idade entre 13 e 14 anos eu jogava fliperama com a Shermie. Mas o Árabe me aconselhou a não assinar Shermie. “Vamos ser mais brasileiros. Substitua o S por C. Mesmo que você assine com Ch não vai ter problemas depois, porque tem um grafiteiro de fora com a tag Sher.”

AAR – E o complemento Bixo Urbano?

C – Significa um grupo de pessoas pratica intervenção urbana em Manaus. Quem tem…

AAR – Então é um crew?

C – É como se fosse um crew. O grupo é formado por antropólogo, skatista, eu como grafiteira, um cara que faz lambe e mais gente. O nome surgiu a partir de conversas com o antropólogo e uma amiga skatista e integrante do movimento feminista de Manaus pra gente fazer um evento em parceria. Daí, a gente pensou em montar um coletivo de intervenção urbana. A gente queria uma coisa bem urbana de Manaus. Não um nome indígena, mas quanto mais urbano e menos cultural. Então dei a ideia de bicho urbano. Eles perguntaram: ”Por que?” Respondi: O animal mais urbano, tirando o gato e o cachorro aqui em Manaus, é a muriçoca. Lá é chamada de carapanã (mosquito sugador de sangue, conhecido no sul como pernilongo, no Norte é carapanã, no Nordeste é muriçoca). Como a cidade é rodeada por mato, tem muita muriçoca ou muita carapanã. Então, ficou com a logo muriçoca bicho urbano. A nossa intenção era o nome de um bicho urbano que estivesse em tudo que é lugar. Por sinal, em qualquer lugar em Manaus a pessoa vai ter que conviver com a muriçoca. Então o nosso trabalho está em todo lugar de Manaus. Pra ter uma diferença, o grupo sugeriu trocar bicho por bixo.

byJFParanagua

AAR – E a parceria com a grafiteira baiana Mônica? Vocês sempre estão grafitando juntas?

C – Olha! A gente não é apenas grafiteira, entendeu? Não é só amiga também. A gente já é irmã. A gente sempre está junta, independentemente do grafite, da vida pessoal. Sempre estamos pintando juntas, porque a gente fala a mesma língua, as ideias são as mesmas. Sempre estou ligada no Toque Feminino. Não sou do crew, mas gosto de interagir nos trabalhos dela.

AAR – Recentemente você fez uma pintura em Arembepe. Foi algo especial ou trabalho particular?

C – Olha! Nem uma coisa nem outra. Um amigo nosso, chamado Balbino, que é DJ e militante do Hip Hop, convidou a gente pra pintar o muro da casa dele. Eu estava na companhia dos grafiteiros e de um DJ, do Coletivo Casa Preta de Belém, e mais alguns integrantes do Coletivo Cospe Tinta de Manaus, que estavam passando alguns dias em Arembepe, após a participação deles no encontro Panela do Caruru, realizado em Itacaré, depois aproveitamos para pintar o muro da casa de Balbino.

AAR – Além do grafite você desenvolve outro tipo de arte?

C – Eu só faço arte ligada ao grafite. Eu pinto tela, mas uso o spray. Eu faço adesivo, mas coloco spray, estou produzindo lambe, mas coloco spray. Eu também estou querendo fazer umas intervenções aqui mesmo, colando algumas coisas na rua.

AAR – Steacker?

C – Steacker não. Mas, fazer com papelão. Os desenhos já estão prontos. Só falta agora recortar e colar na rua, como uma pessoa andando naturalmente.

Chermie

AAR – Quais são as grafiteiras que você cita como referência?

C – Em Salvador, Mônica, pela história dela. Porque não tem como dizer que não vou falar (risos). Pela história dela, como grafiteira e como mulher. Posso falar que ela é a verdadeira resistência do grafite. A primeira grafiteira, que sofreu muito preconceito. Mas ela é referência do grafite daqui de Salvador. Internacional é Chalak, que é uma grafiteira chilena, atualmente morando em São Paulo e casada com um grafiteiro. A ACB, uma grafiteira brasileira que morava no Chile e morreu de CA por causa do aerosol. Eu não posso deixar de citar a polêmica grafiteira carioca Anarkia, uma referência do grafite nacional. Ela e mais três mulheres foram premiadas por uma revista nacional como “Mulheres referência no Brasil”.

AAR – Dilma Roussef foi uma das mulheres.

C – Foi ela, a presidente Dilma, e outra mulher, que não recordo o nome. Anarkia, é uma referência. Também tem as duas grafiteiras feministas paulistas que são: Ana Clara e a Fernanda Funega, que gosta de pintar índio. Então, a minha base de pintar índio foram elas duas, as principais incentivadoras. Elas, por exemplo, diziam: “Faça isso pra melhorar a identidade, porque você vai se encaixar nisso, é melhor do que ficar procurando vários estilos.”

AAR – Quais são seus projetos para o futuro?

C – Como projeto principal, quero lançar um atelier e comprar uma casa em Salvador.

Chermie

AAR – Seu plano é morar definitivamente em Salvador?

C – Bom. Até agora sim. Mas, vou embora, se tiver uma oportunidade fora do Brasil.

AAR – Você desenvolve algum trabalho social?

C – Aqui, em Salvador não. Em Manaus, participei do Coletivo Epoian Ari-poriá (Levanta Mulher). Na linguagem indígena da Tribo dos Maués: Epoian significa Mulher e Ari-poriá significa Levanta. Era um Coletivo de Mulheres, que trabalhava com serviços sociais, palestras sobre Maria da Penha, gravidez na adolescência. Em São Paulo, trabalhei numa ONG chamada União Populares de Mulheres da Zona Sul, fazendo oficinas de grafites prá crianças e outras atividades pra idosos. Também já trabalhei com o pessoal de moradia, quando morei numa ocupação, na Prestes de Maia, em São Paulo.

AAR – E sobre a tatuagem? Quando você iniciou?

C – Quando morei em São Paulo. Fui atrás de emprego e não consegui. Fiquei desempregada, passando fome. Você está achando engraçado, mas é sério.  Teve um evento e conheci uns grafiteiros e tatuadores. Um deles foi o Chamds, que é grafiteiro e tatuador. Ele me arranjou um trabalho no estúdio dos tatuadores. Como eu estava com dificuldade, passando fome, fui trabalhar na ONG, só que funcionava aos domingos. Quando não conseguia almoçar na ONG eu ia pro estúdio do Chamds. Aí pedi a ele pra me ensinar umas técnicas do grafite. Ele foi um dos incentivadores para eu ser uma tatuadora, porque já grafitava, sabia desenhar e também ia ganhar um dinheiro.

AAR – Qual a mensagem que você quer deixar?

C –  Incentivar as meninas que tem vontade de grafitar pra botar a cara na rua, porque se elas realmente quiserem seguiir a carreira não devem ter receios nem desistir na primeira dificuldade que surgir. E lembre-se: Em tudo que a gente for fazer na vida, sempre vai sofrer no início. Mas não desistam!

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