Entrevista com Mônica: Uma das principais artistas e pioneira da nova geração de escritores urbanos de Salvador

byJFParanaguá

Mônica: "a cor rosa e os adereços femininos prenominam nos meus grafites"

A grafiteira Mônica Reis, ou simplesmente Mônica, como assina seus trabalhos, 28, casada com o grafiteiro Pinel (Jackson Barbosa), dois filhos, Talisson e Talita Reis Barbosa, integrante do grupo de artistas do Projeto Salvador Grafita, é a nossa entrevistada desse post.

A respeito de pioneirismo, abro um parêntese, para relembrar uma personagem da velha geração de pichadores/grafiteiros soteropolitanos, com o pseudônimo de Madame Mim, que marcou presença no cenário baiano durante o período da repressão estudantil. Agradeço a Miguel Cordeiro – autor intelectual do Faustino -, por ter comentado sobre o assunto em uma de nossas conversas.

Mônica e este blogueiro na primeira entrevista

Mônica e este blogueiro na primeira entrevista

Conheci Mônica no dia 18 de janeiro de 2007, na Estação Ferroviária da Calçada, em companhia de grafiteiros do Projeto Salvador Grafita, pintando vagões da Companhia de Trens Urbanos. Naquele dia, realizei a minha primeira de três entrevistas com Mônica. A partir dessa data, passei a acompanhar sua trajetória, percorrendo os bairros da cidade documentando suas intervenções, percebendo a evolução da sua criatividade, além das transformações de Mônica, personagem homônima, do escritor Maurício de Souza.

A personagem Mônica, em nova fase, no Viaduto Luis Eduardo Magalhães, Avenida Paralela

A personagem Mônica, em nova fase, no Viaduto Luis Eduardo Magalhães, Avenida Paralela

De lá para cá aconteceram muitas mudanças na vida profissional da artista. Pinel teve papel fundamental no seu crescimento, passando-lhe seus conhecimentos e ensinando-lhe novas técnicas. Com seus próprios méritos adquiriu experiência, conquistou o respeito dos amigos e grafiteiros, criou sua crew Toque Feminino e integra o grupo de GrafiteirasBR. Recentemente participou de uma viagem de intercâmbio cultural para Roma (Itália), promovida pelo Instituto de Cultura Brasil Itália Europa (ICBIE), com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Laser (Secult). Denuncie abusos. Direitos reservados.

Mônica (blusa verde) entre Pietro (E) e o "staff" do ICBIE na Comuna IX de Roma

Mônica (com spray na mão) entre Pietro Gallina, X-Kátia e o "staff" do ICBIE na MR XI Comune di Roma, na Itália

Leia na integra a entrevista com a grafiteira Mônica:

Qual o seu nome artístico ou você tem um pseudônimo?

Meu nome artístico é Mônica, o mesmo de batismo. Às vezes me chamam de Índia.

Você se considera a pioneira na cena urbana de Salvador?

Eu fui a primeira a ir pra rua pintar acompanhando o meu marido Pinel.

Quando você fez o seu primeiro trabalho?

Já fiz tantos grafites que nem me recordo mais (risos). Mas, na época da pichação fui uma das participantes do Esquadrão de Grafite Satã (EGS).

Quais foram os locais da pichação?

Prédio da Coca-Cola, Estação Pirajá, além de outros estabelecimentos.

Que sensação você sentiu com esse ato transgressor?

O gosto pelo proibido! Adrenalina pura! Gostoso! Essa era a sensação: pegar um spray, fazer o “picho” e depois sair correndo com medo da polícia.

Você foi presa alguma vez?

Não. Já fui pintada por um policial.

Como aconteceu?

Eu estava pichando uma banca de um bar no bairro de Cajazeiras III e o proprietário flagrou no ato fazendo um bomb da EGS. A reação dele foi imediata! Segurou-me pelo braço, em seguida pegou uma lata de tinta látex dentro do bar e derramou sobre o meu corpo, dizendo-me: você fez uma coisa errada! Quando ele me soltou sair correndo assustada.

A partir desse fato você deixou de pichar?

Sim. Deixei de ser pichadora e fui ser grafiteira.

Além desse acontecimento, que outros fatos interessantes ou pitorescos aconteceram na sua vida. Você pode revelar alguns?

Prefiro falar sobre os pitorescos. Adoro quando estou pintando observar o público admirando o estilo de me vestir. Outros adoram pegar no meu cabelo ou então pedem o número do meu telefone. Além disso, o interesse da galera em querer saber quem é a Mônica do grafite, ao vê-la nos muros ou no site. E quando se encontram comigo, ouço o seguinte: Puxa! Minha maior vontade era de lhe conhecer. Tudo isso pra mim é muito engraçado (risos).  Então percebo a importância do meu trabalho exposto por aí.

 A sua presença na cena urbana teve influência de Pinel?

Claro! Desde o período da pichação até hoje. Ele me ensinou e ainda me ensina. Na verdade, sempre admirei seu estilo e sinto-me à vontade ao fazer um grafite com a ajuda dele, ou seja, dando dicas ou sugestões.

Você explora muito os traços femininos nos seus trabalhos?

Nas minhas pinturas gosto de fazer bombs personalizando o meu nome e usando a cor rosa, azul, flores, além de adereços, como joaninha, o coração com uma flor, entre outros detalhes. O lance mesmo é: quem olhar vai perceber logo que o grafite é feminino.

Qual o significado do coração? Por acaso, era o de Pinel?

Não! (Risos) Era o meu mesmo! Depois de fazer as letras, eu colocava o desenho do coração para as pessoas se identificarem comigo. Atualmente, meu  personagem é uma boneca da Mônica com variadas formas.

Além das dicas de Pinel, o que mais influenciou a sua decisão de ser uma grafiteira?

O encontro nacional de grafite realizado em Salvador em 2005. Um dos pontos marcantes do evento foi o assunto tratado numa das palestras sobre a importância da mulher na cena do grafite. Gostei tanto da onda, que estou até hoje, pintando os espaços urbanos.

Como você se vê na cena do grafite?

Optei por ser uma grafiteira. Por isso, sinto-me gratificada! Sinto-me bem! Gosto da ideia de estar grafitando os muros da cidade, junto com a galera. Como em Salvador não tinha uma mulher grafitando, decidi mostrar a minha cara, quebrando esse tabu. Grafite não é só coisa de homem!

Você faz parte do Projeto Salvador Grafita?

Sim. Quando entrei no projeto fui trabalhar na área administrativa, sendo responsável pela frequência dos meninos (grafiteiros), controle dos locais onde eles estavam pintando e das ligações telefônicas. Através do convite do coordenador do projeto, Edvandro “Tucunaré” Castro, faço parte do grupo de artistas do Salvador Grafita. Sou grata pela oportunidade e por ter acreditado no meu potencial artístico.

E qual o sentimento da sociedade em relação a você?

No começo foi muito difícil. Ficava triste quando saia para pintar e ouvia da galera o seguinte: olha a pichadora aí! Não era pichação, cara! Eu estava embelezando a cidade. Isso agora mudou. A população está reconhecendo o meu trabalho, elogia e até me incentiva. Esse reconhecimento é muito importante para nós artistas de rua.

Atualmente existem muitas mulheres grafitando. Qual o incentivo que você dá para que outras mulheres se tornem grafiteiras?

O mais importante é ter força de vontade, coragem e, realmente querer ser uma grafiteira. Isso é fundamental para enfrentar a rua e os desafios que irão surgir.

Você ganhou ao longo desses anos experiências e novos conhecimentos, participando de eventos em cidades do interior baiano e em outras  capitais?

Já são cinco anos de estrada. Muitas coisas mudaram na minha história como grafiteira. Ganhei muita experiência participando de eventos no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Sergipe, Ceará, Minas Gerais e algumas cidades da Bahia, a exemplo de Serrinha, além da viagem para a Europa. Recentemente, através do Projeto Salvador Grafita, tendo como companheira XKátia, estive em Roma, na Itália. Aliás, ainda continuo enriquecendo os conhecimentos com o aprendizado de novas técnicas, estilos e, principalmente, a formação de novos amigos.

E sobre sua viagem pra Europa?

Foi um presente do coordenador do Projeto Grafita Salvador pelo reconhecimento do nosso trabalho. Além de pintar em escolas e espaço aberto, tive a oportunidade de conhecer diversos pontos turísticos de Roma e de outras cidades e saborear os deliciosos pratos da cozinha mediterrânea. Tudo é maravilhoso! Não posso deixar de citar o espetacular e difierente Carnaval fora de época de Sciacca e o aproveitamento das explicações do presidente do ICBIE, Pietro Gallina,  com riquezas de detalhes de cada lugar que passamos. 

Qual o evento de grafite mais importante que você participou?

O 1º Encontro de Mulheres Grafiteiras em São Paulo, organizado pelo grupo GrafiteirasBR.

Você integra alguma crew?

Tenho a minha própria que é a Toque Feminino (TFC) e faço parte da crew carioca Linha Rosa (LRC) e do grupo GrafiteirasBR.

Você gosta de pintar sozinha ou na companhia de outras pessoas?

Às vezes é bom pintar só por que sinto mais liberdade de expressão e também amo pintar com outros artistas de rua.

Por exemplo, quem são eles?

Boob, Pinel, Bigod, Prisk e Drico. Sinto-me mais à vontade quanto pinto com eles. E muito gratificante também quando recebo a visita de grafiteiros de outros estados.

Cite um dos grafites que você gosta mais?

A pintura de uma boneca bem grande da Mônica no muro de um estacionamento na Rua Carlos Gomes. Foi muito difícil devido o espaço ser muito alto e a escada que não ajudou muito. Mas, fiquei feliz por ter conseguido concluir a boneca.

Qual a mensagem você quer deixar para as mulheres?

Antes da mensagem, quero aproveitar essa oportunidade para agradecer a você, nosso grande amigo, por estar nos valorizando e divulgando os trabalhos dos artistas de rua, através do seu blog e nas suas exposições fotográficas.

Escolhi as seguintes mensagens:

Enfrentem os seus medos e vivam os seus sonhos” e, Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é creditar que todas as coisas são um milagre.

11 comments for “Entrevista com Mônica: Uma das principais artistas e pioneira da nova geração de escritores urbanos de Salvador

  1. 23 de março de 2012 at 19:55

    Amooooooooooo! Linda artista!

  2. 23 de março de 2012 at 19:54

    Amooo! Ela é de mais! Admiro muiito essa grande artista. Beijos meu amor.

  3. 28 de novembro de 2011 at 10:04

    Maluco, Moro aki em Cajacity em Salvador, danço break a 3 anos e nunca vi pessoas representar tão bem nossa Salvador.

  4. Tais
    28 de janeiro de 2011 at 07:46

    Muito boa essa entrevista, realmente sua técnica evoluiu muito!
    Porém a a sua evolução técnica esta inteiramente ligado a sua evolução pessoal!
    Então continue a trilhar seus caminhos e eu estarei aplaudindo orgulhosamente o teu sucesso!
    Parabéns!

  5. 25 de janeiro de 2011 at 22:49

    Parabéns minha filha! Que Deus em sua sabedoria te exalte cada vez mais , pois vc é uma pessoa maravilhosa, esforçada, batalhadora, e ainda tem um longo caminho a percorrer, então muita criatividade, muros e tintas a sorte vc mesmo faz!!

    Valeu Paranaguá, tá massa! Sempre com novidades! Um abraço!!!

  6. Ayesk Machado
    24 de janeiro de 2011 at 12:29

    Olá.
    Eu gostaria de saber como posso entrar em contato com a Mônica. Na escola em que trabalho, vamos estudar grandes pintores brasileiros e vamos inserir o grafite como conteúdo. Se puder me ajudar agradeço.
    Aguardo contato por e-mail.
    ayesk.machado@hotmail.com

    Grata.

  7. leia
    22 de janeiro de 2011 at 15:42

    Sou fã dessa mulher veio!… As ruas todas tem trampos dela…
    Beijos e sucesso vc merece.

  8. talita
    21 de janeiro de 2011 at 16:29

    Minha mãe está de parabéns cada vez mais! Ela tem o brilho no olhar, traz a arte no coração e faz o grafite com suas mãos!
    Beijos mãe.

  9. 21 de janeiro de 2011 at 02:12

    ÊTA! ESSA É A MÔNICA MESMO! SOU O MAIOR FÃ DELA.
    UM SALVE AOS QUE SÃO DE VERDADE…
    VALEU PELO ESPAÇO! É NÓS…

  10. joice
    21 de janeiro de 2011 at 01:52

    Olhe a minha vizinha! Adorei ver o trabalho dessa fera aqui! Uma matéria bem elaborada e rica de detalhes interessantíssimos sobre a vida e o trabalho de Mônica. Pouco a conheço, mas, vejo-lhe muito, principalmente nos muros de Salvador. Gosto muito do trabalho dela e ela sabe! Além disso, adimiro, respeito e valorizo seu belo trabalho.

  11. 21 de janeiro de 2011 at 01:35

    Muito bom!
    Muito obrigada!
    Salve, salve Paranaguá!

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