Fachada do ICEIA com novo visual

 

 

 

Caricatura de Anísio Teixeira faz parte do novo cenário

Caricatura de Isaías Alves faz parte do novo cenário

Não é de agora que gestores de instituições de ensino de Salvador e de outras capitais do país estão utilizando o grafite como forma de embelezar as fachadas e áreas internas dos prédios escolares, através de mutirões e oficinas com a participação do alunado. A iniciativa também é uma prática que vem sendo adotada para renovação de grafites, a fim de evitar pichações, fixação de cartazes e propagandas políticas nas paredes dos imóveis. Essa foi uma das opções escolhidas pela socióloga com mestrado em Educação, professora e diretora do Instituto Central de Educação Isaías Alves (ICEIA), Denise Cardoso da Paixão, para modificar o visual da fachada da escola. “O grafite foi um meio de conservar a recente pintura e uma forma de preservação da arquitetura do imóvel. A arte do grafite consegue desempenhar essa função”, justificou Paixão. Leia mais na entrevista a seguir:

 Há quanto tempo a senhora está na direção do ICEIA?

Três anos.

Quais são os cursos da grade curricular?

Técnico em Informática, Ensino Normal Médio, que era o antigo Magistério, Ensino Médio Regular e o PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – com o curso Técnico em Informática.

Quantos alunos estudam no ICEIA?

Um total de 1.800 aproximadamente.

Nesse total está incluído o curso noturno?

Os três turnos.

O que motivou a senhora escolher o grafite para modificar o visual da fachada externa do prédio?

O grafite foi a melhor opção para conservar a recente pintura da fachada e uma forma de preservação da arquitetura do imóvel.

A senhora sabe quantos anos têm o prédio do ICEIA?

A construção do prédio tem mais de 70 anos. Já o curso e a história do ensino no Instituto Normal existem há 175 anos

Quem foi Isaías Alves?

Um educador. Um grandíssimo educador. Escreveu vários livros de Psicologia. Foi também secretário de Educação, fundador da Escola de Filosofia da UFBA e um expoente no cuidado com o curso Normal (Formação de Professor) tornando-o assim, eu diria, um  expoente comprometido nesta área.

Um expoente como Anísio Teixeira?

Sim. No sentido de compromisso e preocupação com a formação dos jovens. Eles possuem linhas de atuação diferentes. O primeiro extrapola as questões de gestão educacional voltando-se para a Filosofia da Educação. O segundo, bastante hábil nas questões administrativas e burocráticas no âmbito da educação.

Foi da senhora ou do colegiado a proposta do grafite? Houve um consenso?

Houve um consenso entre as coordenadoras, articuladora de área e a vice-direção. Não tivemos muito tempo para planejar, convocar o colegiado, discutir, rediscutir. Há situações que exigem respostas e atitudes de forma rápida. Caso contrário, toda a pintura teria sido em vão.

Existe algum vínculo da proposta com o Programa Mais Educação?

Nenhum vínculo.

E com a atividade artística do ICEIA?

Também nenhuma. A ideia do grafite está vinculada ao fato de que houve uma pintura e que queríamos preservar, queríamos tornar a pintura conservada um bom tempo. A arte do grafite consegue desempenhar essa função.

Então foi uma atitude do grupo evitar a ação de pichadores?

Esse foi o nosso primeiro pensamento. Então decidimos procurar os grafiteiros. Mesmo porque o grafite estava muito gasto, inclusive com propaganda política. E de qualquer sorte a fachada precisava de uma nova pintura.

Como se deu o contato com os grafiteiros?

Na verdade muitos grafiteiros começaram a procurar a direção do ICEIA, quando viram a fachada sendo pintada.

A senhora fez uma seleção dos grafiteiros?

Não houve seleção. Na verdade procurei saber quem é que estava fazendo o grafite do Hospital Santa Izabel e me informaram que um deles era Pinel. Então fiz o contato com ele. Pinel é o nome artístico, sendo que nome verdadeiro é Jackson. A partir desse contato iniciamos as conversas. Ele me explicou algumas coisas sobre o grafite e entendeu o que eu queria colocar.

A senhora já tinha visto algum trabalho de Pinel?

Não. Ele mostrou vários trabalhos do seu caderno de desenhos. Mostrou-me algumas fotos que achei interessantes.

A temática foi de livre escolha ou definida pelo grupo do ICEIA?

Houve o consenso de que a pintura deveria ter certo equilíbrio, certa harmonia. Pinel se encarregou de expressar tal ideia e dar o seu toque.

Qual foi o requisito principal?

Gostei do que ele propôs e acatei a sugestão. O grafite está diferente da ideia original, porém dentro do contexto pensado.

Pinel indicou outros grafiteiros? Quem foram eles?

Eu não dei opinião sobre a indicação. Ele escolheu Mônica e Boob.

O professor da área artística acompanhou o trabalho dos grafiteiros?

O acompanhamento foi da vice-direção e da colaboradora de área, porque não havia muito tempo também. O serviço de pintura já tinha terminado e precisava ser grafitado para evitar pichação. Aconteceu tudo muito rápido. Se houvesse tempo o procedimento seria, digamos: mais participativo com o envolvimento de todos, além de um entendimento sobre a temática do grafite. Por esse motivo essas fases de fato não ocorreram, devido à urgência.

Quanto à parte lateral. A senhora pretende dar continuidade ao trabalho dos grafiteiros?

Eu tenho o desejo de pintar, porém no momento ainda não dar para executar a parte que falta. Estamos pensando. Por ora a fachada cumpriu o que a gente queria.

 Como a senhora tem recebido os comentários do público e dos alunos?

Muitas pessoas gostaram. Os alunos, os vendedores ambulantes também. Diversas pessoas param na frente para fotografar. Então, entendo que o público gostou da pintura do grafite. Como não houve críticas, concluo que foi aprovado.

 Por que área da Escola Getúlio Vargas não fez parte do projeto? Houve algum entendimento entre as direções das duas instituições?

É outra escola, outra direção. Não houve esse contato para compartilhar a proposta, o querer fazer junto.

A senhora se refere ao limite entre a EGV e o ICEIA?

Ficou uma parte que está sem a pintura, consequentemente sem o grafite.

 E o alunado participou do projeto?

Participou apreciando, vendo e com a perspectiva de no ano que vem a direção realizar oficinas de grafite do Programa Mais Educação. Na verdade muitos alunos passaram a se interessar pelo grafite e trocar informações com os grafiteiros. Se tivesse havido um tempo maior a direção da escola teria promovido um concurso. O risco era muito grande devido o receio de um pichador marcar as paredes, motivo da pintura do grafite ter sido emergencial.

Uma parede toda pintada de branco é um convite para os pichadores?

Pois é! Eu quis evitar isso. Nesse sentido fui mais rápida e também tive sorte.

A senhora tem problemas com alunos que riscam as paredes internas do prédio e das salas de aulas?

No início sim. Por exemplo: em 2009 havia mais; em 2010 diminuiu um pouco e; neste ano diminuiu ainda mais. Mas ainda identifico dentro da escola algumas paredes riscadas.

Qual a mensagem a senhora quer deixar.

A grafitagem ficou muito bonita. A fachada ganhou novo visual. Deu mais harmonia ao local. Os taxistas e os vendedores que fazem ponto em frente ao ICEIA gostaram. Por mim eu pintaria todo o quarteirão do ICEIA, mas isso não depende só de mim. Gostei muito do trabalho dos grafiteiros, porque desenvolveram com muita calma, tranquilidade e profissionalismo.

Como sugestão para pintura de todo quarteirão, a direção do ICEIA poderia organizar um mutirão de grafite, envolvendo vários artistas de rua, shows de hip hop, oficinas com alunos, participação do corpo docente e da comunidade.

Achei muito interessante a sugestão. É algo a se pensar.

7 comments for “Fachada do ICEIA com novo visual

  1. NORMA CAEDINS
    23 de março de 2015 at 23:50

    Professora , gostaria de opinar sobre a nova pintura e o grafite colocadas nas paredes do Instituto. Os elogios de ambulantes e pessoas que por ali passam é o resultado que a arte transmite , mas no caso do ICEIA é diferente porque ele é um bem público que deve ser preservado , mantendo-se as cores originais evitando qualquer acréscimo que venha descaracterizar o monumento. É valido que a Ilustre Professora verifique os demais prédios públicos e igrejas. Seria muito importante palestras ou aulas sobre preservação, conservação e restauração de Bens Públicos.

    • 30 de março de 2015 at 11:05

      Prezado André, bom-dia!

      O trecho entre Penedo até Praia do Gunga está em ótimas condições e bem sinalizado. Desejo-lhe boa viagem!
      Obrigado pelo acesso ao blog.

      Cordial abraço.

      JFParanaguá.

  2. CAIO
    13 de dezembro de 2011 at 12:44

    A CARICATURA NÃO SERIA DO ISAIAS ALVES ?
    NÃO SEI ONDE ENCONTROU ANÍSIO TEIXEIRA ATE MESMO PORQUE O NOME DO COLÉGIO É ICEIA INSTITUTO CENTRAL DE EDUCAÇÃO ISAIAS ALVES

    • 13 de dezembro de 2011 at 19:31

      Caio, fico-lhe grato pela observação quanto a legenda da imagem do rodapé da nota.

  3. 8 de dezembro de 2011 at 11:36

    Nossa! Fiquei encantada com a entrevista!
    Quero agradecer pela divulgação do trabalho e poder saber mais sobre as opiniões da diretora e do público.
    by Mônica grafites.

  4. Sônia Maria Brandão
    7 de dezembro de 2011 at 18:25

    Adorei. Passo sempre pelas imediações pois tenho parentes que moram perto do ICEIA.
    Quando morei em Barreiras, fui Presidente, por três anos, da APAE de lá e juntamente com os professores e diretores da instituição incentivamos os alunos a pintarem o muro que delimitava a área da escola. As crianças adoraram, foi uma festa e cada um deixou a sua marquinha lá. Claro que é um trabalho diferente deste, mas ficou lindo principalmente se pensarmos nas limitações de quem fez. Voltei ao passado.

    • 7 de dezembro de 2011 at 20:18

      Parabéns pela iniciativa. Como deve ter sido contagiante a felicidade das crianças participando do evento. Faço uma ideia da sua alegria!
      Agradeço-lhe pelo comentário, além de ficar feliz que pessoas como você estão valorizando esse tipo de arte.

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