Entrevista: Notem da Sub Mundo Crew

 

Grafiteiro Notem, em ação durante à noite

O grafiteiro Notem (Danielson Barcelar Santiago), é um artista que mantém as suas tradições, tratando-se do seu estilo, da sua marca ou identidade que é o bomb. “Realmente, é o que gosto de fazer”, afirma. A inspiração pelo grafite, surgiu através do grafiteiro Sisma Costa, admirando as pinturas dele espalhadas pelo Centro de Salvador. Tem como ídolos: os artistas urbanos Baga e Sisma Costa, além do companheiro e parceiro inseparável Vidal da Sub Mundo Crew. Conheça mais sobre Notem, na entrevista a seguir: (Direitos reservados. Denuncie abusos).

Bombs da dupla Sheik e Vidal em 2002

Bombs da dupla Sheik e Vidal em 2002

 A Arte na Rua – Voltando no tempo, como era a cena no bairro de Águas Claras? Quem pintava ou pichava?

Notem – Entre 98 e 2000, existia uma turma em Águas Claras que estudava na mesma escola,e formava dois grupos de pichadores disputando os espaços do bairro: MPS (Marginalizados Pela Sociedade) e GPP (Garotos Procurados pela Polícia), que era o rival da gente. O meu grupo, MPS, tinha oito pessoas: True, Tazo, Deid, OPreto, não recordo como assinava, Pop, Ukyo, Nick (Vidal) e eu,que na época, assinava Sheik. No GPP, lembro-me de três rapazes que se destacavam mais, que eram Isca, Grito e Cova. Os grupos mais antigos foram MG, GDM, GIS, PSM, além do MPA, e PVB (Pichação Vício Brutal) do bairro de Cajazeiras.

AAR – Como eram feitas as pichações? Vocês faziam riscos, ondinhas e assinavam os tags?

N – A gente iniciou na escola fazendo as cobrinhas, aquelas ondinhas, disputando as paredes do bairro com o outro grupo. Phichamos mais à noite e nos fins-de-semana. Na época, como ninguém trabalhava cada um contribuía com R$1 pra comprar uma lata de spray (risos). Era mais ou menos assim.

AAR – Quem era o líder do grupo?

N – Não existia um líder. Em minha opinião, no grupo onde há uma liderança fica mais fácil de ser atingido ou destruído. Por exemplo: Se cortar a cabeça e o corpo do líder? O grupo não tem mais a mesma ação ou até não funciona ou acaba. True era quem mais divulgava o nome do grupo.

AAR – Seu pai sabia que você pichava?

N – Rapaz! Meu pai sabia, nunca gostou e sempre me criticou. Eu andava muito com Vidal e quando tomou conhecimento que ele riscou o caminhão de um morador do bairro e o dono mandou limpar, meu pai passou a observar qual o nome que estava nas paredes. E junto com Vidal sempre tinha Sheik. Ele sempre perguntava: “É você que é o Sheik?” Respondia-lhe que não. Mas sempre que ele via os nomes no bairro, comentava: “Eu vi, Sheik e Vidal, no viaduto de Águas Claras!”

Sheik e Vidal: o tag da dupla marcou várias paredes do bairro de Águas Claras

Sheik e Vidal: o tag da dupla marcou várias paredes do bairro de Águas Claras

AAR – Vocês foram abordados alguma vez pela polícia?

N – Teve uma vez, sim. Foi numa época de São João, quando a gente fez uma intera (vaquinha) pra comprar dois sprays. Nesse dia, saímos riscando de ponta a ponta a rua principal do bairro com frases de Feliz São João. Era uma vez de cada. Aí, quando chegou defronte do campinho (de bola), apareceu uma viatura descendo a rua no sentido contrário devagar com os faróis apagados. Eu tinha dado um risco e passei a lata (spray) pra True e pedi pra colocar na mochila dele e falei brincando: Segure o flagrante, segure o flagrante, porque se aparecer o rodo (polícia), o barril está com você. Éramos seis. Só que o grupo estava espalhado. De um dos lados estava eu, True e Pop. Ao perceber a gente o motorista da viatura deu um cavalo de pau e parou em cima de nós três. Acendeu os faróis naquela pressão toda gritando: “parados, parados!” Aí, um dos policiais mandou a gente ficar de costas pra revistar. Eu observei que True tinha jogado a mochila pro lado uns dois metros distante da gente. Na abordagem ao colega Pop – ele estava com o cabelo pintado de louro -, o policial tratou logo de tirar a corrente que estava amarrada na carteira e falou: “Isso aqui serve pra isso!”. Enrolou no pescoço dele e começou a apertar. Eu, do lado, vendo aquilo, tremia de medo, a vontade era de correr.

AAR – O quê aconteceu em seguida?

N- O policial continuou apertando e sufocando Pop. O olho dele parecia que ia sair da órbita. O outro policial, ao pressentir que eu ia correr, se aproximou e colocou a arma na minha cabeça dizendo: “Corra porra, pra você ver se os seus miolos não vão primeiro do que você. Corra pra ver”. Então, respondi, morrendo de medo: não vou correr! Passou a me revistar e perguntou: “Cadê a maconha? Cadê a maconha? Eu respondia: não tem maconha não. E continuou a pressão: “Vocês fumam sim. E estão indo para o campo fumar.” Depois olharam os nossos dedos e viram que não tinha nada queimado. Então, eu disse pra ele: “nós viemos pra casa de nossa tia que mora aqui perto”. Pra pegar a gente em falha, o tira nos afastou e colocou eu e Pop de um lado e True do outro e perguntou: “Vocês conhecem o outro? ”Respondemos não. Mas Pop respondeu que sim (risos). Com essa controvérsia, eles ficaram bravos e nos perguntaram novamente: “Como é, se conhecem ou não?”Eu respondi: não. Quando entenderam que não fizemos nada, libertaram eu e Pop. True continuou lá. Saímos no sentido contrário de onde morávamos. Pop então disse: “Olhe véio, vou correr! Vou correr porque o cara vai atirar! Assustado, disse-lhe: Não corra senão eles podem tirar nova onda. Ele não pensou duas vezes. Tirou a sandália e saiu em disparada pela rua. Eu também fiz o mesmo. Quando o policial percebeu a nossa corrida começou a gritar: “Parem, senão vou atirar!” Eu olhei pra trás e vi o policial apontando a arma em nossa direção. Por azar encontramos um pessoal que estava jogando bola e tentou nos parar. Um deles segurou Pop. Minha reação foi agredi-lo e o outro que tentou me segurar. Conseguimos escapulir e continuar a nossa corrida até chegar a uma ribanceira onde ficamos entocados dentro do mato. Do local, percebemos a claridade dos faróis da viatura à nossa procura. Assim que acalmou, saímos imediatamente do local chamado de Vietnã, considerado barra pesada. A nossa preocupação era se True tinha sido levado pelos policiais. Pop, chorando, perguntava: “E agora, o que vamos dizer pra mãe dele?” Mesmo nervoso eu disse: “Calma! O policial vai melar (pintar o corpo) e depois soltar”. Quando o encontramos, percebemos que não tinha acontecido nada. Nós nos abraçamos e falamos: “Ô rapaz, a gente pensou que você tinha sido preso”. Ele respondeu sorrindo: “Eles foram atrás de vocês e se esqueceram de mim.”

AAR- Vocês deixaram de pichar a partir desse fato?

N – Não. Continuamos, apesar termos dito que depois do que passamos não íamos pichar mais. No dia seguinte, ao sair da Cesta do Povo lá do bairro, me deparei com uma viatura parada em frente à loja e dentro estavam os tais policiais. Olharam-me da cabeça aos pés, talvez porque eu estava com a mesma camisa do Palmeiras do dia anterior. Fiquei com muito medo, mas acredito que não me reconheceram. Alguns dias depois, voltamos a pichar novamente

AAR – Vocês atuaram fora do bairro?

N – Era mais pelo bairro. Mas fomos pelo menos três vezes pela noite pichar no Campo Grande e na Baixa dos Sapateiros.

AAR –Qual o significado de Sheik?

N – Eu vi esse nome numa reportagem sobre a Arábia. O Sheik é um cara que tem várias mulheres. É o sonho de qualquer homem (risos). Também tinha uma música de Charles Brown Jr, que na época eu gostava muito e falava um pouco da história do Sheik. Então resolvi colocar esse nome.

AAR -Quer dizer que além de pichador você era o Sheik de Águas Claras?

N – Era só vontade! Ficou só na vontade! (risos).

AAR – Vocês se sentiam marginalizados?

N – Não pelo fato de sermos marginais, criminosos ou algo do tipo. Mas, excluídos. Sinto-me, até hoje, excluído dessa sociedade.

AAR – A pichação foi uma reação pelo fato de ser excluído da sociedade?

N – Sim. Mas do tipo a gente se sentir excluído de tudo. Não de ser marginal de ser ladrão, de ser algo de ruim, mas de estar à margem, de estar excluído mesmo.

AAA – A população ficou sabendo das ações do grupo?

N – No início foi bom porque era sigilo, ninguém sabia. Mas quando Vidal inventou de riscar o caminhão de um morador, logo na minha rua,deu no que deu. A partir desse dia, qualquer risco que aparecesse no bairro era meu e de Vidal.  E, mesmo que não fosse, a culpa caía pra gente, porque os moradores iam até lá em casa fazer queixa.

AAR – Pedir para limpar paredes ou muros?

N – Eu nunca limpei nenhum, mas Vidal chegou a limpar dois muros.

AAR – Como você tomou conhecimento do grafite?

N – Na época, a gente só fazia pichações e umas letras tipo bomb. Hoje a gente já sabe o conceito do que é um bomb. Eu via os grafites na parede e curtia aquilo. Queria fazer, mas não sabia nem como. A minha inspiração surgiu através do grafiteiro Sisma Costa, que morava no bairro e eu nem sabia. Admirava as suas pinturas espalhadas pelo centro da cidade. Depois, quando fui estudar no Colégio Severino Vieira, passei a ter contato e trocar informações com outras pessoas, a exemplo de Pinha, Sidoca e Neuro.  Tempos depois conheci o grafiteiro Lee27, em Castelo Branco, durante a Posse Negranada. Ele me passou um pouco sobre o conceito do grafite. Estudando no centro, vi pela primeira numa banca de revista um exemplar da Rapper Brasil, com uma matéria de quatro páginas falando sobre o grafite. Esses fatos me possibilitaram o entendimento do que era grafite.

Como era o seu bomb?

N – Fazia o meu tag Sheik com letras gordinhas e arredondadas.

AAR – Nos bomb’s vocês usavam spray ou látex?

N- A gente não tinha noção. Pintava com o que aparecesse, látex ou tinta de saco, misturando com tinta a óleo. Spray era raro. Como lhe falei, a gente juntava oito pessoas pra comprar uma lata de spray (risos) que custava R$7. As pinturas eram mais com tinta a óleo porque eu pegava da oficina de meu pai.

Onzi, Sodi, Sheik e Vidal

Onzi, Sodi, Sheik e Vidal

AAR – No grafite você iniciou sozinho ou fez parte de alguma crew?

N- Iniciei com Vidal, no bairro. Na escola, o diretor deixava cada equipe fazer o seu trabalho, pintando com o compressor. Vidal, quando participou de uma oficina de grafite com os monitores Soneca e Neuro, mostrou-me umas folhas de xérox com vários tipos, modelos, imagens e significados do grafite. Sempre que ele participava dos cursos trazia informações pra gente. Inclusive, através de um desses cursos, ele e Onze criaram o SMC, que é a Sub Mundo Crew. Certo dia, passou lá em casa e me disse: “Velho, a partir de hoje não vamos mais assinar MPS, porque True está colocando várias pessoas em troca de tinta”. Como já estávamos bem conhecidos no bairro, muita gente queria entrar para a MPS. O grupo ficou muito grande, perdendo o conceito.

Bomb da Sub Mundo Crew

Bomb da Sub Mundo Crew em Pau da Lima

AAR – Perdendo a identidade?

N – Sem rumo. Ficou como se fosse torcida organizada, tipo gang. Então, a gente resolveu fazer algo à parte do MPS, criando o SMC, ideia de Vidal com o pessoal do curso, Onze, Da Maia e também Jorge Luis Sena, que assinava Sena Garage.

AAR- E você?

N – Quando fui convidado pra integrar o SMC fiquei meio assim, porque não sabia do que se tratava. Mas, depois de conhecer e me identificar com eles, participei das interas pra comprar e fazer as pinturas em conjunto, como um bomb enorme do SMC em Pau da Lima e em Águas Claras. Fizemos outro na área da Feira do Japão, bairro da Liberdade, com a sobra de material do projeto de grafite de um dos cursos. O Sub Mundo tinha integrantes dos bairros de Águas Claras e Castelo Branco, além  de Edu, que morava na Lapa.

AAR – Você ainda permanece no SMC?

N – Continuo. A gente começou com essa equipe, depois eles criaram a Zeus, formada por House (in memoriam), Edu e Onze. Na Sub Mundo,, ficaram somente eu, Vidal, o pessoal do bairro e Deis, da Barroquinha. Garage (Jorge Sena) saiu. Vidal, sempre à frente, é que atuava mais. Teve uma época que dois rapazes de Cajazeiras atropelaram muito os nossos trabalhos, quando estávamos no auge. Ao encontrar um deles perguntei: “Ô rapaz, por que vocês estão fazendo isso?” Ele respondeu: “Foi ideia do outro colega”. “Então você sabe o motivo?” Meio sem jeito falou: “Porque vocês estão bem divulgados. Como a gente não sabe fazer o trabalho de vocês, decidimos ratear (passar por cima) pra ficarmos conhecidos”.

Pinel, Fera da SMC (representando C. Coité), With

Pinel, Fera de C. do Coité (representando a SMC), With, Notem e Puk

AAR- O que levou você a sair do SMC e ir para 91 Crew?

N – Foi porque a maioria do pessoal parou de pintar. Vidal começou a fazer faculdade, Vela se afastou devido questões familiares, Opreto viajou para o Espírito Santo, Base e os outros integrantes saíram. Só eu fiquei assinando pelo SMC. Divulgando os meus trabalhos através da internet, passei a conhecer pessoas de outros locais. Isso despertou o interesse de alguns grafiteiros, a exemplo de Sabo e Sim de Minas Gerais, Puk e Cronos do Amazonas e Liam do Espírito Santo, integrando-se ao SMC e representando o crew fora da Bahia. Os grafiteiros Fera e Medo, de Conceição de Coité, também representavam a SMC no interior baiano. Interessante que a turma de fora estava pintando mais do que eu aqui. Daí começaram as cobranças: “Cadê os caras daí, parecem que estão devagar!” Foi uma pressão tão danada que resolvi acabar. Quando recebi o convite da 91,  comentei com os caras que saíram, inclusive disse-lhes sobre as cobranças do  pessoal com o argumento de que estavam pintando mais do que a gente que era a raiz e o início de tudo. Então decidi me unir a Crew 91, formada por With, Acme, Blok e Kesh.

Grafite de Notem com o parceiro With, na época da Crew 91

Acme, With e Notem, na época que participava da Crew 91

AAR – Mas você demorou pouco tempo lá. O que aconteceu?

N – Meu desligamento foi mais por divergências de ideias. O pessoal queria que tivesse uma liderança e eu não concordava com isso. Eu acho que a partir do momento que um grupo tem uma liderança, e se esse líder for pego, morrer ou cortar a cabeça, fica um corpo perambulando sem noção. Acho que o grupo tem de ter o mesmo valor, independente de liderança. Se um vale 10, todo mundo vale 10. Todo mundo deve estar inteirado pra representar o grupo. E não ter uma frente ou uma liderança.

AAR – Você entrou e saiu quando?

N – Em que ano exatamente não me recordo. Mas ainda chegamos a realizar aquele evento lá em Santo Inácio que você fez a cobertura.

AAR – Você atualmente está no SMC?

N – Resolvi voltar e Vidal também. Além de nós, retornaram Opreto, Base, Tib e Fera de Conceição do Coité.

AAR – Hoje você está assinando como?

N – Noten.

Bombs com diferentes...

Bombs com diferentes…

 

...letras diferenciados

…tipos de letras

AAR – Qual o significado do seu novo tag?

N – Escolhi Notem, por sugestão de Theip, porque o tag Sheik estava sendo usado por um pichador novato de Cajazeiras. Durante uma pintura que fiz no muro do Porto Seco Pirajá, próximo da Brasilgás, por duas vezes comentaram comigo a respeito do tal pichador, que pintou a casa de um policial. Revoltado com o picho, ele passou a procurar Sheik em todas as Cajazeiras, pra poder matá-lo. Então, pra não pagar o pato pelo Sheik de lá (risos), resolvi mudar de nome. A princípio, achei que era muita ousadia a troca do tag, mas refleti. Todo mundo já sabia que eu assinava Sheik e provavelmente iria pagar o pato.  Mas, o nome surgiu mesmo quando participei do curso pela Steve Biko, na companhia de Slamer, Caspa e Theip. Theip foi o padrinho, me batizando de Notem. No início assinava com n no final. Depois percebi que a pronuncia com o n estava errada e mudei para m. Gostei do Notem, porque é tipo perceba-me, ou seja, chamando a atenção pra arte, pro muro e não pra pessoa no caso. Observar só a pintura. Eu gosto de passar pelos lugares, não ser percebido e que ninguém saiba que eu estou ali ou que eu estive ali.

AAR – Qual a sua preferência de estilo: bomb, 3D, wildstyle, estêncil?

N – Rapaz! Até hoje eu tento fazer as letras wildstyle, mas, realmente, o que gosto de fazer é bomb.

AAR – Hoje em dia seu trabalho está mais amadurecido. Como foi essa evolução?

N – Rapaz! Eu continuo buscando a evolução (risos). Não cheguei ainda no ponto desejado. Cada dia a gente aprende uma coisa nova e quero também trabalhar com personagem. Estou elaborando letras, repetindo mais, porque acho que é interessante.

Tag num conteiner de lixo

Tag num conteiner de lixo

AAR – Quais são suas fontes de pesquisas?

N – No início, as pesquisas foram através de fotocópias de materiais que a gente conseguia com muita dificuldade. Depois veio a internet. A revista Rap Brasil foi um importante meio de informação e divulgação. Lembro da nossa expectativa olhando e esperando que tivesse um trabalho publicado na revista. Cito também o “Zine Na Lata”.

AAR – Você quando vai pra rua leva um esboço pré-concebido ou a ideia surge na hora?

N – Depende. Às vezes a gente leva uma coisa já elaborada, quando vai fazer um painel. Ou então vou à casa de Tial ou de Vidal.  A gente junta, um faz uma letra, o outro completa com desenhos.

AAR – Quais foram as mudanças de atitudes que você percebeu com a interação de grafiteiros de outros bairros?

N – O pessoal do meu bairro sempre foi meio avesso a fazer amizade com o pessoal de fora. Uma vez, eu, Onze, Vidal e Ric, depois de finalizarmos uma pintura na Feira do Japão, bairro da Liberdade, seguimos sem destino e fomos parar no bairro da Ribeira. Lá, encontramos dois rapazes pintando um muro e percebemos que eles não estavam interessados em fazer amizade. Mas, como gosto de agregar, fiz logo uma saudação pros caras. A partir daí, já rolou um diálogo com Ícaro e Mosca, inclusive fomos convidados a participar da pintura que estavam fazendo.

AAR – Você pinta com outros grafiteiros?

N – Pinto. É só fazer o convite. Não tenho nada contra. Mas prefiro até pintar no meu bairro mesmo. Quando tem aniversário de um do grupo a gente chama outros grafiteiros pra pintar.

Notem, Vidal e Drico: intervenção no vale do Ogunjá

Notem, Vidal e Drico: intervenção no Vale do Ogunjá

Notem, Vidal, Will e Rain: intervenção no muro do Forte do Barbalho

AAR – Quais são os locais que você gosta de pintar?

N – Na saída da BR-324, imediações de Porto Seco Pirajá. Ali é a nossa vitrine.

AAR – Como você vê a cena em Salvador?

N – A cena se resume em antes e depois do Projeto Salvador Grafita. Ninguém tinha material, não tinha apoio, não tinha nada. Então, alguns conseguiram fazer parte do projeto. Parabéns para aqueles que conseguiram a oportunidade, com apoio, remunerado ou não…

AAR – Com mais liberdade?

N – O pessoal não tinha certa liberdade, assim, porque era ditado o que deveria ser feito. Hoje em dia não. O pessoal já está mais livre.

AAR – Por que mais livre?

N – Até mesmo na arte. Antigamente se alguém falasse, por exemplo: “Eu quero que você faça um grafite aqui pra mim”. Então era a pessoa que ditava o que queria. “Eu quero um triângulo, um quadrado ou uma bola”. Hoje em dia não.Eu posso fazer o grafite e colocar o meu nome Notem. O cara vai gostar do mesmo jeito. Mas, não me ditar o que é que eu vou fazer.

AAR – Como você vê o grafite conquistando espaços nas galerias?

N – Eu não tenho nada contra. Mas grafite tem que estar na rua. A partir do momento que ele passa para uma galeria eu acho que deixa de ser grafite, já perde a origem que é a rua. O grafite tem que ocupar os espaços, as lacunas. Aproveitar as oportunidades.

Notem: "Grafite tem que estar na rua"

Notem: “Grafite tem que estar na rua”

AAR – Cite os grafiteiros que você tem como um ídolo?

N – Eu gosto muito de Sisma Costa e Baga. Tenho admiração pelos doi,s como artistas e pessoas. Além do meu parceiro eterno Vidal (risos), um casamento no bom sentido.

AAR – Qual a mensagem você quer deixar?

N – Pra galera pintar e não visar só o dinheiro. Voltar a ser como era antes, juntando a galera pra estar pintando mais nas ruas. Sair pra pintar mesmo, azoar, riscar ou até mesmo pichar. Alguma coisa que não seja remunerado. Não fazer só aquele negócio bonitinho. Todo mundo quer fazer o bonitinho ou se deixar levar por alguns reais (risos). E mais: Quero dizer a galera que tenho saudades de Slamer, Caspa, Fumaça, Iori e Theip, toda essa galera pintando.

7 comments for “Entrevista: Notem da Sub Mundo Crew

  1. 12 de abril de 2013 at 09:37

    Ficou muito bacana a entrevista. Conheço NOTEM antes dele começar a riscar e já vivi esse esse estilo de vida. É muito legal ver essa evolução dele e do parceiro VIDAL.

    Um salve a todos!

  2. 8 de outubro de 2012 at 20:42

    Gostei muito da entrevista. Já era fã do blog e pra mim é uma honra está colaborando com minha história!!
    Grato a todos que leram e deixaram um comentário!!

  3. Kéu
    8 de outubro de 2012 at 20:19

    Parabéns! Ótima entrevista! Grande Notem, admiro seu trabalho e sua perseverança. Sucesso brother!!

  4. SmoL !
    8 de outubro de 2012 at 19:51

    Show! Grandes histórias! Eu nem sabia que vc era rodado assim! Só trampo massa!
    PAZ, irmão! Continue assiim!

  5. Júnnior
    6 de outubro de 2012 at 16:02

    Parabéns Notem! Bela histótia de vida e superação!

  6. Júnnior
    6 de outubro de 2012 at 16:00

    Parabéns Notem, bela hisótia de vida e superação.
    Parabéns

  7. Mega =>CO
    6 de outubro de 2012 at 11:14

    A favela sempre teve um começo e os manos que fazem parte dela tbm tem. Essa é sua história, sua caminhada e o mais importante de tudo isso é a humildade em qualquer de todas as situações que passou pela vida.

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